Por Renata Lestro

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De uma fotógrafa turca

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Chamada Elif Sanem Karakoç.

Mais ou Menos assim:

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os óculos retornaram na busca por revisitar sensações vividas. novos olhares são sempre novos caminhos.

se saudade é mato, mato o que é?

trajetória

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lembranças acumuladas em luz e tinta
fragmentos que nos tocaram a alma
as pernas bambas e o equilíbrio incerto
de fazer parecer ali
suave
todo esse mato que cresceu ao meu redor

e, uma a uma,
se esvaem

a memória no calçadão
um brinde a ulysséa
um drink para marlene
e as pernas
bambas
agora dançam, balançam
sem compromisso
à luz daquela foto velha
daquele vestido velho
daquela mensagem
naquele cartão

e passam dois
em passos de dois
e dançam

levanto
lanço o meu olhar sobre um dos vestidos
ele não comunica
a música apenas esboça a impossibilidade do retorno
canto e quero chorar
toda a saudade que brotou da solidão

sento
acendo um cigarro e lhe lanço um olhar
ele não comunica
a carta apenas confirma a impossibilidade de um encontro
grito e quero chorar
todo o vazio que sobrou ao meu redor

encaro
cruzo e descruzo as pernas a bambear
somos nós três
e balões estouram para a festa poder continuar
passeio e quero sorrir
todo o calor que se fez presente em mim

batidas descompassadas em suor e pressa
fragmentos do que nos marcou a vida
as pernas bambas e o equilíbrio incerto
de fazer parecer ali
suave
todo esse mato que cresceu ao meu redor

e, um a um,
se abandonam

fôlego para cantar de novo
um favor simples
o suor a escorrer
e as pernas
bambas
agora descançam, em paz
sem compromisso
àquela penumbra forçada
daquela gaveta esquecida
daquelas saudades
naquelas pessoas

e passam dois
em passos de dois
e dançam

procuro
lanço o meu olhar sobre alguém da plateia
ele não comunica
o fluxo apenas permite a quebra violenta daquela relação
visito e quero deixar
todo o deserto que nasceu dentro de mim

e passam três
em passos de um só
e vão

eu queria te dizer uma coisa.

Óculos de armação.

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Eu queria saber quem é o menino que hoje estava sentado na fileira de cadeiras do palco. Ele parecia estar só no meio de dois casais. Eu queria saber...

The Charles C. Leary

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I lost the gloves that my mother gave to me
While on my ways to the make believe sea
And I lost the rings that my lover gave to me
While on my ways to the Red Salt Sea

And I lost my ways to my happy pen club
And ended up where I still can't say but
I lost my favorite pen on the way

And I lost my friend but that couldn't be
I lost the friend who sang with me
I lost my son but that couldn't be
I lost the son who sat on my knee
I lost my man I let inside me
And I lost my friend that my love and I shared
While on my ways to the make believe cares

And I lost the tunes that stuck to my ears
While on my ways to the make believe hears
And I saw Sapiena she sang to the sea

And I love the man who took care of me
He owns the ship the Charles C. Leary
Yes I love the man who took care of me
He sails the world on the Charles C. Leary

A saudade dele é maior que a minha

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Entrou por último e sentou-se na primeira fileira, perto da parede. Por trás dos óculos bifocais, acompanhou com olhos atentos e marejados aqueles 45 minutos, como na sua maior paixão. Usava blusa branca e calça jeans escura, bem mais médico do que hoje. Acompanhou os movimentos dos outros de lá pra cá, mas às vezes me fitava, mesmo que eu estivesse só acompanhando os movimentos dos outros de lá pra cá. Ajeitou-se na cadeira umas duas ou três vezes. Inclinou a coluna pra ver se o cérebro é mesmo como eu acho que é. Acho que me observou enquanto eu acendia um cigarro. Viajou Ulysséa-Ulysses-Marlene-Bogotá e me fez de herói de fantasia com suas mãos de herói trabalhador. No final, olhou pro Caio e sorriu um sorriso genuíno de boca fechada, pois está ficando velho e é verdade que já não sabe mais disfarçar. Eu não sabia que doía tanto uma mesa num canto, uma casa, um jardim. Até que me perguntei hoje, no caminho pra cá, se um dia também vou sorrir desse jeito.

Só a gente sabe que o chão é vermelho.

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A cada fim de semana vamos nos invadindo e conhecendo melhor o nosso próprio espetáculo. A temporada tem dessas coisas...descobrir novos lugares, novos momentos, uma nova brecha para um respiro curto e se está no céu. Repetir, repetir, repetir... fazer de novo como se fosse a primeira vez. É tão íntimo, tão próximo que o exercício da repetição é a sobremesa do jantar infinito. Cada dia um final, uma pessoa. Me canso internamente e só quando nele estou é que percebo o quanto estamos expostos. O quanto nos oferecemos para quem alí testemunha. Digo poucas coisas e digo tudo. Falo de mim e deles. Mastigo. Não tem água e nem descanço. CALOR. Faz mais calor a cada dia. Hoje as pessoas demoraram muito para entrar e eu queria dançar logo. Encontrar a calma na respiração. Um beijo, dois beijos, três beijos...quem me encontra em minha gaveta aberta? É bom falar baixinho. fofocar. Por aí vamos indo. Compreendendo no corpo essa tal arte do encontro. Façamos.

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Amigos!

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Queridos e mais queridos em nossa noite de estreia!

Otávio Borba, Bel Flaksman, Isadora Malta, Renan Brandão e Bernardo Lorga!

Ana Carolina Abreu,

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o Mato agradece a ajuda!

 

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