A saudade dele é maior que a minha

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Entrou por último e sentou-se na primeira fileira, perto da parede. Por trás dos óculos bifocais, acompanhou com olhos atentos e marejados aqueles 45 minutos, como na sua maior paixão. Usava blusa branca e calça jeans escura, bem mais médico do que hoje. Acompanhou os movimentos dos outros de lá pra cá, mas às vezes me fitava, mesmo que eu estivesse só acompanhando os movimentos dos outros de lá pra cá. Ajeitou-se na cadeira umas duas ou três vezes. Inclinou a coluna pra ver se o cérebro é mesmo como eu acho que é. Acho que me observou enquanto eu acendia um cigarro. Viajou Ulysséa-Ulysses-Marlene-Bogotá e me fez de herói de fantasia com suas mãos de herói trabalhador. No final, olhou pro Caio e sorriu um sorriso genuíno de boca fechada, pois está ficando velho e é verdade que já não sabe mais disfarçar. Eu não sabia que doía tanto uma mesa num canto, uma casa, um jardim. Até que me perguntei hoje, no caminho pra cá, se um dia também vou sorrir desse jeito.

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