(Exatamente) Como um HD

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Ciência investiga 'googles humanos', pessoas que nunca esquecem

Síndrome raríssima faz com que pessoa consiga se lembrar de praticamente tudo em sua vida, do almoço de hoje ao de três anos atrás.

O americano Robert Petrella tem uma memória fora do comum: ele é capaz de memorizar todos os números de telefone armazenados em telefones celulares e, ao olhar uma única fotografia de um lance de um jogo do seu time de coração, o Pittsburgh Steelers, é capaz de dizer a data da partida e o escore final.
Petrella tem uma síndrome raríssima, chamada Memória Autobiográfica Altamente Superior (HSAM, na sigla em inglês), na qual o paciente não se esquece de quase nada do que aconteceu com ele na vida.
Quem tem essa condição é capaz de se lembrar o que comeu no almoço hoje ou três anos atrás, ou de recordar com detalhes as notícias que leu no jornal há décadas. Mesmo se quiserem, essas pessoas não podem apagar memórias como o fim de um namoro ou as lembranças de um acidente.
"Eu notei isso durante o ensino secundário, me dava conta que nem todos recordavam o que eu conseguia lembrar, e pensava que era algo incomum, como ser canhoto ou algo assim. Mais tarde, notei que isso tinha outra dimensão. Sempre tive facilidade nos exames, pois lembrava de tudo sem ter feito revisão dos tópicos", disse Petrella à BBC.
Para o americano, a síndrome acaba sendo bastante útil em sua profissão, já que ele é produtor de documentários para o History Channel e o Discovery Channel.
"Às vezes, me recordo de algo que alguém disse há 30 anos, coisas que as outras pessoas não lembrariam, porque foram ditas no momento, e isso pode tornar as relações raras", diz Petrella.
"Mas não tenho problemas em viver no passado. As recordações estão na minha cabeça e são parte de mim, mas não me impedem de viver o hoje e olhar para o futuro."
Programa de TV
A HSAM é tão difícil de ser identificada que até então apenas 20 pessoas no mundo - todas nos Estados Unidos - haviam sido diagnosticadas com ela.
Mas um programa sobre a síndrome exibido pela rede de TV americana CBS, e visto por pelo menos 24 milhões de pessoas, ampliou o conhecimento sobre a HSAM.
Desses telespectadores, 500 entraram em contato com os pesquisadores por acreditarem que tinham HSAM. Mas apenas 10 foram confirmadas com a síndrome.
Há apenas cinco anos essa condição começou a ser chamada de Memória Autobiográfica Altamente Superior, quando o especialista em memória James McGaugh publicou um artigo sobre seu estudo de seis anos de uma paciente com os sintomas.
O quadro já foi retratado na ficção, como no conto 'Funes, o Memorioso', do argentino Jorge Luis Borges, e na série de TV Unforgettable ('Inesquecível', em inglês), que acaba de estrear nos Estados Unidos.
"Provavelmente há pessoas com essa síndrome há séculos, mas suas bases nunca haviam sido investigadas cientificamente. É um quadro muito raro", afirmou McGaugh à BBC.
Para reconhecer a HSAM, os cientistas fazem testes médicos e avaliam os potenciais candidatos com um questionário de acontecimentos públicos ocorridos nos últimos 20 anos. Fatos que vão desde eleições a competições, passando pela a entrega de prêmios e até acidentes aéreos.
Uma pessoa com a Memória Autobiográfica Altamente Superior seria capaz de dizer a data precisa e o dia da semana em que os eventos ocorreram, além de outros detalhes.
Os que obtêm mais de 55% no teste são então interrogados sobre experiências mais pessoais.
"Google humano"
"A família nos dá fotos ou diários para que a gente tenha dados precisos e assim provar as informações das quais eles dizem se lembrar. É muito, muito difícil que um indivíduo que registre (dados como esse) além de um certo tempo, como um nível de detalhes tão específico", afirmou McGaugh.
Por isso, eles foram apelidados de "Googles humanos".
É o caso de Brad Williams, de 55 anos, que vive em Wisconsin. 'Me dei conta (da síndrome) participando de concursos de perguntas em bares. Sou fanático por esses concursos e sempre fui melhor e mais rápido do que o restante das pessoas', disse Williams.
"Isso também acontece em episódios familiares: eu sempre consigo lembrar de datas específicas e detalhes de tudo."
Williams diz que ser ter HSAM lhe traz algumas vantagens específicas em seu trabalho como jornalista. "O que eu de fato preciso armazenar ou buscar na internet é um volume bem menor de informações do que o que já está na minha cabeça."
No entanto, nem todos os que possuem esse tipo de memória festejam sua condição.
É o caso de Jill Price, a paciente que procurou especialistas por não poder mais suportar seu constante exercício de se lembrar de tudo. Foi o caso dela que serviu de gatilho para os estudos.
"É incessante, incontrolável e imensamente cansativo. As lembranças vêm, simplesmente chegam na minha mente. Não posso controlá-las", escreveu Price em sua autobiografia The Woman Who Can't Forget (A Mulher que Não Consegue Esquecer, em tradução livre do inglês).
Em seu caso, a HSAM acabou complicando suas relações com as pessoas. Entre os pacientes de McGaugh não há nenhum casado ou com relações estáveis.
No entanto, o especialista afirma que casos de insatisfação como os de Price são a minoria.
"A maioria acredita que é um dom. Se questionados se prefeririam não ter a síndrome, eles dizem que não mudariam isso por nada."
Busca no cérebro
Entre esses pacientes, está a atriz Marilu Henner, conhecida pela série de TV Táxi, do fim dos anos 1970. Para ela, visualizar a vida em forma de um calendário tornou mais fácil a tarefa de atuar.
A atriz agora dá palestras motivacionais e escreveu um livro para ajudar outras pessoas a ativar sua memória autobiográfica.
"Não tenho problemas em viver com o passado: as lembranças estão na minha cabeça e são parte de mim. Não me impedem de viver o hoje ou olhar para o futuro."
O neurobiólogo McGaugh considera, no entanto, que a HSAM é uma condição pré-existente, que se mantém ao longo do tempo e que ainda carece de explicações neurológicas.
Por ora, a recomendação aos portadores da síndrome é que não encarem sua condição como um grande peso e que não se exponham a circunstâncias traumáticas. Não são bons candidatos, por exemplo, para se alistarem no Exército ou seguir para a guerra.

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/11/ciencia-investiga-googles-humanos-pessoas-que-nunca-esquecem.html

Temporada na Rampa, sextas e sábados de Novembro!

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Mato na Rampa

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Queridos,


Gostaríamos de convidar todos vocês para a nova temporada do nosso espetáculo! Continuamos com a nossa pesquisa e, por isso, a obra se apresenta renovada e inquieta! Além disso, contamos agora com a ilustre presença do pianista Felipe Malgadi - em cena, com a gente! 

Serviço:

Todo Esse Mato Que Cresceu Ao Meu Redor

De 11.11 a 26.11 - sextas e sábados sempre ás 20:00 horas.

Local: RAMPA, Rua Sá Ferreira, 202, Copacabana ( ao lado da estação General Osório do metrô, saída pela Sá Ferreira)

é isso, minha gente!

esperamos todos vocês!

Pensa lá bem

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ערגה

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É o hebraico para saudade: Ergá. Diz-se que que a saudade entrou na vida lusitana através dos judeus. De nômade pra nômade. Nada mais natural.

/que cresceu sobre os trilhos

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Essas são imagens do Highline Park, em Nova York. Um grande mato que cresceu sobre os trilhos de uma linha de trem abandonada, um assombro em termos de planejamento urbanístico e paisagístico numa grande metrópole, um observatório pro concreto, um respiro, uma visão, um futuro (e por isso mesmo, um lugar de saudades não vividas).

La Maison en Petits Cubes

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Por Renata Lestro

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De uma fotógrafa turca

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Chamada Elif Sanem Karakoç.

Mais ou Menos assim:

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os óculos retornaram na busca por revisitar sensações vividas. novos olhares são sempre novos caminhos.

se saudade é mato, mato o que é?

trajetória

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lembranças acumuladas em luz e tinta
fragmentos que nos tocaram a alma
as pernas bambas e o equilíbrio incerto
de fazer parecer ali
suave
todo esse mato que cresceu ao meu redor

e, uma a uma,
se esvaem

a memória no calçadão
um brinde a ulysséa
um drink para marlene
e as pernas
bambas
agora dançam, balançam
sem compromisso
à luz daquela foto velha
daquele vestido velho
daquela mensagem
naquele cartão

e passam dois
em passos de dois
e dançam

levanto
lanço o meu olhar sobre um dos vestidos
ele não comunica
a música apenas esboça a impossibilidade do retorno
canto e quero chorar
toda a saudade que brotou da solidão

sento
acendo um cigarro e lhe lanço um olhar
ele não comunica
a carta apenas confirma a impossibilidade de um encontro
grito e quero chorar
todo o vazio que sobrou ao meu redor

encaro
cruzo e descruzo as pernas a bambear
somos nós três
e balões estouram para a festa poder continuar
passeio e quero sorrir
todo o calor que se fez presente em mim

batidas descompassadas em suor e pressa
fragmentos do que nos marcou a vida
as pernas bambas e o equilíbrio incerto
de fazer parecer ali
suave
todo esse mato que cresceu ao meu redor

e, um a um,
se abandonam

fôlego para cantar de novo
um favor simples
o suor a escorrer
e as pernas
bambas
agora descançam, em paz
sem compromisso
àquela penumbra forçada
daquela gaveta esquecida
daquelas saudades
naquelas pessoas

e passam dois
em passos de dois
e dançam

procuro
lanço o meu olhar sobre alguém da plateia
ele não comunica
o fluxo apenas permite a quebra violenta daquela relação
visito e quero deixar
todo o deserto que nasceu dentro de mim

e passam três
em passos de um só
e vão

eu queria te dizer uma coisa.

Óculos de armação.

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Eu queria saber quem é o menino que hoje estava sentado na fileira de cadeiras do palco. Ele parecia estar só no meio de dois casais. Eu queria saber...

The Charles C. Leary

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I lost the gloves that my mother gave to me
While on my ways to the make believe sea
And I lost the rings that my lover gave to me
While on my ways to the Red Salt Sea

And I lost my ways to my happy pen club
And ended up where I still can't say but
I lost my favorite pen on the way

And I lost my friend but that couldn't be
I lost the friend who sang with me
I lost my son but that couldn't be
I lost the son who sat on my knee
I lost my man I let inside me
And I lost my friend that my love and I shared
While on my ways to the make believe cares

And I lost the tunes that stuck to my ears
While on my ways to the make believe hears
And I saw Sapiena she sang to the sea

And I love the man who took care of me
He owns the ship the Charles C. Leary
Yes I love the man who took care of me
He sails the world on the Charles C. Leary

A saudade dele é maior que a minha

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Entrou por último e sentou-se na primeira fileira, perto da parede. Por trás dos óculos bifocais, acompanhou com olhos atentos e marejados aqueles 45 minutos, como na sua maior paixão. Usava blusa branca e calça jeans escura, bem mais médico do que hoje. Acompanhou os movimentos dos outros de lá pra cá, mas às vezes me fitava, mesmo que eu estivesse só acompanhando os movimentos dos outros de lá pra cá. Ajeitou-se na cadeira umas duas ou três vezes. Inclinou a coluna pra ver se o cérebro é mesmo como eu acho que é. Acho que me observou enquanto eu acendia um cigarro. Viajou Ulysséa-Ulysses-Marlene-Bogotá e me fez de herói de fantasia com suas mãos de herói trabalhador. No final, olhou pro Caio e sorriu um sorriso genuíno de boca fechada, pois está ficando velho e é verdade que já não sabe mais disfarçar. Eu não sabia que doía tanto uma mesa num canto, uma casa, um jardim. Até que me perguntei hoje, no caminho pra cá, se um dia também vou sorrir desse jeito.

Só a gente sabe que o chão é vermelho.

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A cada fim de semana vamos nos invadindo e conhecendo melhor o nosso próprio espetáculo. A temporada tem dessas coisas...descobrir novos lugares, novos momentos, uma nova brecha para um respiro curto e se está no céu. Repetir, repetir, repetir... fazer de novo como se fosse a primeira vez. É tão íntimo, tão próximo que o exercício da repetição é a sobremesa do jantar infinito. Cada dia um final, uma pessoa. Me canso internamente e só quando nele estou é que percebo o quanto estamos expostos. O quanto nos oferecemos para quem alí testemunha. Digo poucas coisas e digo tudo. Falo de mim e deles. Mastigo. Não tem água e nem descanço. CALOR. Faz mais calor a cada dia. Hoje as pessoas demoraram muito para entrar e eu queria dançar logo. Encontrar a calma na respiração. Um beijo, dois beijos, três beijos...quem me encontra em minha gaveta aberta? É bom falar baixinho. fofocar. Por aí vamos indo. Compreendendo no corpo essa tal arte do encontro. Façamos.

Nosso banner!

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Amigos!

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Queridos e mais queridos em nossa noite de estreia!

Otávio Borba, Bel Flaksman, Isadora Malta, Renan Brandão e Bernardo Lorga!

Ana Carolina Abreu,

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o Mato agradece a ajuda!

Dez passos para encontrar uma pessoa

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Me posiciono no microfone de mentira sustentado no tripé imaginário. Ajeito o tripé. Ouço os pássaros e tento encontrar o momento certo de abrir o mapa-múndi na minha cabeça. Curioso como realmente só consigo fazer isso depois que passo do Largo do Machado. Aqueles segundos de suspensão em que vejo de soslaio Caio e Luar deitados e ouço a música do Phil tocando não me fazem pensar em mais nada, e isso me faz feliz. É raro ter um momento no dia em que eu não penso em mais nada. Utilizo algumas sequências já encadeadas mentalmente, mas sempre surge um lugar novo quando a boca se abre. Me sinto uma criança (com algum tipo de retardo mental). 1. Me lembro dos dias em que abria o Almanaque Abril para decorar nomes de capitais.

Caminho em direção à minha cadeira e escuto, com gosto, ao texto do Caio. Vocês não têm ideia de como é bom pra mim ouvir esse texto. Fico imaginando aquela mulher sentada na plateia e sua reação (boba) de espanto e surpresa, assim, logo de cara. 2. Me lembro de quando ela comprava alguma coisa numa loja e tinha que informar seus dados ao vendedor, para fazer cadastro.

Pela primeira vez desde que sentei, desvio meu olhar do Caio e o direciono à Luar, que dança como se fosse Marlene. Tenho um momento de relaxamento e observação, coisa que não se repetirá mais tarde. São poucos minutos em que eu assumo uma posição quase de espectador de gaveta. Penso agora como são diferentes esses momentos, pra mim e pra vocês. 3. Toda vez que a Luar lê o cartão eu me lembro de quando escrevi aquilo, e de quando o contexto era tão diferente quanto poderia ser daquela história que acabamos criando nas nossas cabeças, e eu, na verdade, era mais Marlene do que autor do cartão.

Começo a escrever a carta ao contrário no retroprojetor, e fico feliz com minha destreza. Gosto quando o Caio acompanha os movimentos e assiste à feitura da mesma. Penduro o quadro e me sento. Vejo o olhar fixo do Pedro no Caio, e a posição de desconforto da Luar. Imediatamente me sinto cansado com o momento que se aproxima. Fico pensando em como a Luar se sente.

Entro no consultório médico ou na universidade pra dar uma palestra ou num porão escuro e cheio de experimentos onde só descabelados podem entrar. É difícil. Minha maior fraqueza, defintivamente. 4. Me lembro de quando meu pai comprou um Monza pra minha avó e a gente foi de carro até Recife entregar o presente pra ela. Minhas primeiras memórias vêm dessa estrada e do cachorro que ela quase atropelou quando chegamos, e é neles que penso nessa hora: em meu pai, em minha avó e no cachorro.

Traço caminhos que ainda estão conjugados ao tal cérebro de que falo; é o momento em que tudo se mistura na minha cabeça e imagino estações de metrô entre os meus neurônios. Ouço Caio e Luar falando e meus ouvidos sorriem. Chego a Berlim e 5. lembro exatamente, todas as vezes, daquele trajeto. A pé, de bicicleta ou de conversível branco. Toda a insegurança anterior dá lugar a um estado de alegria que acabo transmitindo na voz mais aguda. As imagens aparecem muito claramente na minha cabeça nesse momento, e são elas que guiam minha fala. Tenho bastante certeza disso.

Corro com os cortornos pra depois contornar a corrida do Caio. Me divirto um pouco e as minhas lembranças 6. vêm até mim por conveniência -- é a Luar quem as traz.

Me sento da correria das crianças e lamento no cigarro que fumo. 7. Cada vez me lembro menos. Na verdade, já me esqueço de lembrar de qualquer coisa. Sinto que torturo Caio e Luar junto com o Pedro. Acho bonito por ser feio, e me impressiono cada dia mais com esse mo(vi)mento. Volto a sentar, resoluto. 8. Minha cabeça não sente a falta de nada.

Me levanto, procuro alguém, procuro uma falta. Pego pela mão, abraço, esboço timidez, finjo que falta. Já não me lembro de nada, muito menos de ninguém. Chego a julgar, boba e internamente, ser egoísta lamentar ausências tão individuais assim. Se em tudo há, em tudo falta. É isso que importa. Saudade é coisa que eu posso produzir assim: 9. lembrando.

10.

Para mim é assim :

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Deito no chão ajustando meu corpo a posição que acredito estar correta. Correta tanto nas minhas relações internas (penso no direcionamento dos ossos no espaço e musculaturas tencionadas) quanto na minha relação externa ( será que estou igual ao Caio, que está ali, do meu lado direito?)

Quando os passarinhos começam e o meu olhar encara o teto, sempre dou uma respirada mais profunda e me sinto deitada numa grama, olhando o céu azul com nuvens e um solzinho gostoso que me esquenta. Como costumava fazer nos jardins de Paris.

O Lucas começa a falar e a cada lugar que ele fala vou com ele, é como se a minha paisagem se modificasse a cada saudade. Nas escadas do 28 sempre penso se a minha mãe vai escutar e sentir a mesma saudade que eu sinto daquelas escadas ,que fizeram parte da nossa vida durante seis meses.

Ouço algo parecido com gansos irritados e sei que a valsa vai começar. Volto para o jardim de Paris. Levo o braço direito para cima tentando tapar o sol que me atrapalha observar alguma nuvem que me chamou atenção. A seqüência de movimentos continua e é muito prazerosa. Adoro apoiar as mãos atrás e espreguiçar. É o movimento que precede minha primeira encarada com o publico. É prazeroso, me sinto a vontade. Sou muito Luar ali.

A fala do jardim é pra mim o resultado desse estado que eu e Caio viemos construindo, durante toda a partitura de movimento, deitados na grama e olhando as nuvens. Sinto muita vontade de compartilhar naquele momento que eu tive um jardim um dia, quando eu acreditava nas pessoas e nas relações. Mas que hoje eu mesma rio disso. Que idéia boba, o Lucas também acha. Só as araras mesmo...

Caio me deixa e tudo muda. Agora estou ali, em cena. Meu corpo é outro, bem mais tencionado. Repito a partitura mais uma vez sozinha e um pouco desconfortável, escuto a história sobre Ulissea e penso que não posso demorar, pra dar tempo de vestir Marlene com calma.

Colocar o vestido é como ativar a memória de Marlene. Tenho que dizer que tenho uma tia com esse nome, a irmã da minha avó. Que delícia a música! Dançar com o Caio é muito prazeroso! Admito preferir que estivesse só nos dois, o Pedro e o Lucas. Tenho que admitir que me critico um pouco, mas me divirto. Fico tensa com o tempo da música e com caminhadinha minha e do Caio. Relaxo depois do gole no Martine. Sinto-me numa festa, contando aquela história pra um amigo querido. Me emociono. Como os homens são cafajestes com as mulheres. Isso realmente me abala, mal consigo contar a história novamente. Me preocupo um pouco com o tempo do cartão, penso nas observações do Pedro.Não consigo ver a Marlene de Copacabana direito. Minha tia Marlene mora em Copacabana.

Encontro o Caio e fazemos a partitura juntos. Agora Marlene é um pouco do sofrimento de cada um. Fico com a sensação que todos que estão nos olhando têm vontade de dançar aquela partitura.

Nos giros me misturo muito com Marlene. Até que ela nos deixa, por completo.

Me emociono com o texto da sacada apesar de ser difícil pra mim ficar ali, só o observando o Caio dobrar o vestido.Pegar alguém da platéia vai ser difícil pra mim.

Me emociono na gaveta . A música do Pedro. Sempre que tem alguém me emociono mais e sinto que a pessoa também. Realmente : tem mais presença em mim o que me falta. Eu sou assim.

A carta é um momento bem difícil pra mim. Me sinto muito exposta , frágil. A fala do Lucas sobreposta a do Pedro vai me afetando cada vez mais. Meu corpo cansado vai me fazendo esquecer um pouco a exposição, acho que vou ficando mais forte. No entanto Caio continua sem me olhar. Quanto mais cansada eu fico, mais faço pra mim e menos pros outros,menos pro Caio. Entro numa pira só minha, mas sem deixar de ser afetada pela situação.

O pulo é o esgotamento total. Mal consigo respirar. Fecho meus olhos e me escondo na nuca do Caio enquanto ele fala do Jardim sentindo meu peso.

É bom voltar para a partitura do inicio. Sinto falta de alguma musica. Acho tenso.

Assim como a Caio me sinto numa sala de aula, ou talvez num consultório ouvindo o Lucas. Olho fixamente a radiografia.

Tentar encher a bola e não conseguir.Tentar colocar pra fora tudo aquilo de mais íntimo e difícil de ser dito.

Movimentos de espera num estado de espera. Um pouco apático. A ansiedade só vem quando ultrapasso o Caio. Ali sim, eu estou esperando alguém que eu quero muito que chegue logo.

O diálogo é cada dia mais prazeroso. Cada dia somos um. Sempre na estação de trem.

Tudo é uma questão de timing. Eu realmente acredito nisso. Acho uma delicia voltar com Marlene.

Adoro traçar uma diagonal no palco com passos pesados depois do cisne.Tenho um objetivo.É difícil falar o texto do Lucas rápido. Tenho medo do microfone. Saudade de quando ser simples. Azeite.

Por incrível que pareça não me critico na criança. Fico bastante a vontade. Sem medo de ser ridícula. Gostava muito de Xuxa contra o baixo astral. Minha mãe era amiga do Guilherme Karan, ele ainda existe? Quero rever o filme.

Meu estado de suspensão é difícil no inicio, mas sustento. Difícil não reagir ao Caio.Sustento. Sair dando uma risadinha é sensacional. Me sinto voltando ao jardim: que coisa boba!

Troco de roupa ouvindo atentamente a tudo que o Caio fala na gaveta. Gosto muito, acho que a primeira gaveta sou muito eu e a segunda muito ele. Adoro. Acho muito rico esse encontro.

Os monstrinhos me afetam muito. Engraçado, são as formas que se tornam movimento e que me atravessam. A fala só intensifica. Sofro mais a cada vez que vou ao chão.

Dançar o solo naquele momento é difícil. Mas encerra um ciclo pra mim. Importante. A fala da procura por alguém é que me dá a qualidade do movimento de todo o solo.

Novamente pego alguém da platéia e digo que tenho muita saudade da minha avó, mãe do meu pai. Falo dela e da sua casa em são Paulo, que a gente ia sempre perto do natal. Conto tudo com detalhes, me emociono e que está comigo também. É bonito.

Depois que paro de falar fica difícil pra eu sustentar aquela relação ali, frente a frente com a pessoa. Mas é isso. Vou aprender. O áudio me emociona. E vai me ajudar. Tenho que parar de ser boba.

Aeroporto

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Foi o que deixaram pra mim, uma vez, na portaria de um hotel longe daqui, dentro de um envelope branco que continha dois sobrenomes: um na frente e outro atrás.

É só uma pessoa que eu tô procurando.

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Minha trajetória:

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Eu...eu... deitado no chão, alertando sempre para a posição exata de minhas mãos, vou ouvindo os lugares narrados pelo Lucas. Eu viajo por eles ou pelo menos tento. Os lugares que conheço que, de certa forma, dialogam comigo quase sempre me fazem abrir um leve sorriso. O pássaro que grita me avisa que está perto de começar a dançar. Foco na música. Entro na coreografia como quem quer se abrir para este novo mundo que presentificamos em cena. Sinto-me bonito. É uma sensação estranha. Com as mãos na cintura encaro pela primeira vez a plateia. Sinto-me uma obra de arte, a musa de um poeta pouco falado, desconhecido. Seguimos neste ir e vir, de um lado para o outro. Como quando balançar as pernas no ar me faz lembrar o quanto gosto de estar em cena e defender este espaço. A Luar me diz coisas sobre um jardim, eu compreendo, mas prefiro me divertir. Saio espaçosamente de fininho. Ponho os meus óculos. Eles me escondem para minha confissão. Pego a foto, uma foto qualquer. Ainda não sei que foto será. Imagino sempre uma mulher segurando um bolo. O nome da minha mãe é Ulysséa eu digo. Busco dividir o texto entre as duas plateias. Busco na plateia a mãe do Lucas. Saber que ela estará um dia me dá confiança. Não quero reconhecê-la, quero que o texto nos una. Saudade boba. A música nos embala para dançar. Acho que este é o momento onde eu e a Luar dividimos uma intimidade boba, uma vontadezinha de dançar nas esquinas e beiras da vida. Eu sempre penso que vou errar a corridinha e me esforço para que não ocorra. A Luar me conta sobre Marlene. Eu assisto como quem vai ao Municipal pela primeira vez. Eu estou no Municipal, nos anos passados, com a minha taça, o meu terno e o meu sorriso de canto de boca. Cai a máscara. Marlene sou eu. Vítima de todos os homens que por mim passaram. Um vestido de noiva me denuncia. Eu sou neste momento uma das "noivas de copacabana" - saudade dessa referência que só divido agora. O Pedro me apresenta um envelope e essa é a primeira vez que nos relacionamos. A mão dele sabe do meu passado e é este lugar que procuro buscar quando caminho em sua direção. Nomes. Nomes. Digo, ou procuro dizer, os nomes como quem fala de frente para um ventilador. Os lábios vão ficando secos. Rígidos. Cambaleio de leve. Em paralelo a Luar, Marlene agora somos todos nós. Todos aqueles que nunca souberam a hora certa de partir ou de pedir um abraço. Ir e vir. Diagonal. Eu não posso errar as pernas, não posso esquecer de dobrar a coluna nem dos quiques finais. A Luar é uma graça e ela me despe como quem esconde uma arma. Juntos, dançamos uma brincadeira de gato e rato, dama e vagabundo sem conseguir identificar quem representa qual papel. Embrulho nossos restos. Falo. Falo sobre a madrugada e constato. Busco a constatação que o Lucas teve ao escrever este texto e não consigo. Persisto. Me sinto frágil pois sei que ele ainda não comunica. Peço a ajuda de todos. Coragem. Troco de roupa. Não sei o que fazer enquanto a Luar ainda não começou a gaveta. Hoje, decidi acompanhar o Lucas em suas tentativas de escrever uma carta de amor. Me sinti bem, me sinti amado. Inauguro o meu jardim como quem abre um programa de televisão. Faço doce, critíco a arte, expondo com atitude o meu romero lero. Anuncio o encontro. Emudeço. Encontrar o Pedro é para mim a pior coisa nesse momento. Busco nos olhos dele as tristezas que sei que já passou. Entendo. A Luar quicando vai me cansando e este cansaço me desequilibra. Meu foco é não perder o olhar do Pedro em nenhum momento. Sou poste. Sou um taroco de sentimento. A fala do Lucas me confunde, me irrita... O Pedro quando fala do fogão me emociona e eu não posso chorar. Recuso o movimento. Um prédio desaba em minhas costas: é a Luar vestida de bicho preguiça mais cansada que a lua. Eu volto para o jardim que, desta vez, não tem graça nenhuma. É chato. Atenção: não confundir bobos com burros, já dizia Clarice. Retomamos de leve a coreografia do início. Eu gosto...é um dos poucos tempos que tenho para respirar. Balanço as pernas mais uma vez. Tenho a sensação que a luz diminui. Estamos em uma sala de aula, em um consultório médico ou dentro da cabeça do Lucas, perto das inquietações dele. O Lucas se humaniza neste momento e nós junto com ele. Ele fala da avó que criamos e a bola na minha boca é coração cansado, mas vivo. Eu...eu...eu...eu tento falar sempre alto. Eu sempre me imagino esperando o ônibus para Niterói no ponto do Rio Sul. Levantar é quase impossível. Esperar mais ainda. Esperar dançando é uma dor para o corpo. Seguimos. Mais um ir e vir. Um dos que eu mais gosto. Nos encontramos para dar lugar a um diálogo. Todo dia ele tem um sabor diferente. A gente se reconhece nele quando brinca com as palavras. É doce morrer (não me lembro de quem é esse frase. Talvez do Caio F. não lembro mesmo.). Jogo o balão e corro. Corro como quem não vai em busca de nada. Busco adequar meu corpo ao ritmo que a corrida pede. Sou um capitão do time dos gordinhos que vai vencer pela primeira vez o campionato anual. Sou capa de um filme da sessão da tarde. O Pedro e o Lucas chegam. A corrida inaugura um sentimento de liberdade ao espetáculo. Somos crianças, rimos e passamos o anel. Me boicoto, não quero mais brincar. Cresci e preciso beijar na boca. Como é que se pede um favor? Eu tento. Amadureço. Moro no Flamengo e abro a gaveta esquecida da mesinha de cabiceira ignorada. Digo coisas e tento me convencer do que digo. Estranho uma profissão que não escolhi. Sou irônico.Com a gaita aciono a Luar. Dançamos feito loucos, truncando movimentos e sentimentos. Este texto me abala e o Lucas e o Pedro parecem me desvendar com as palavras. Enlouqueço, perco a força e a respiração. No microfone, aos trancos e barrancos, procuro pela mesma pessoa a 192 anos. É bonito morrer na praia. Lembra de mim...

Eu te amo, mas não o suficiente pra comer broto de alfafa!

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Eu tive um jardim um dia.

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VEM GENTE!

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Saudade dos casamentos que ainda não soubemos dizer sim..

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eu vou lhe pedir um favor. um favor simples, eu juro.
eu vou colocar uma música e você me beija do início ao fim dela?
obrigado.

Saudades dos filhos que ainda não tivemos

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Por onde andará o (seu) amor:

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Nem alto nem baixo. Nem gordo nem magro. Nem bonito nem feio. Nem normal nem esquisito. Nem simpático nem arrogante. Nem castanho nem ruivo. Nem pequeno nem grande. Nem legal nem chato. Nem doce nem salgado. Nem cabeludo nem calvo. Nem divertido nem sério. Nem longo nem curto. Nem escuro nem claro. Nem fundo nem raso. Nem aberto nem fechado. Nem calmo nem agitado. Nem árvore nem pássaro. Nem forte nem fraco. Nem redondo nem quadrado. Nem nada nem tudo. Só a pessoa que procuro.

Por Mira Barros:

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Confesso.

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Eu tenho saudade de tudo aquilo que, ainda, não posso chamar de meu.

Lucas Santtana - Night Time in the Backyard

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Nem sei como eu não trouxe essa referência antes. Um mato que me faz lembrar de quando eu descia a ladeira de bicicleta em Berlim.

Temporal.

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eu gostaria de contar a saga de uma menina que aos quatro anos de idade sonhava em ser um guarda-chuva. ao fazer quinze, analisou o peso e desistiu da ideia. (achou boba).

Chatroulette Love Song

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Ficção ou Realidade?
Quem se importa?

Pequeno

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Mesmo até meus dezoito anos de idade, ela continuava me dando as tais pílulas todos os dias. Não para crescer os músculos, ou ter a pele mais bonita. Para ser menor. Ela achava bom que eu fosse menor, e eu as tomava sem questionar. Minha avó: me criou mostrando que se eu estivesse na prateleira de um supermercado, só poderia ser um brinde, de tão pequeno. Desses que vêm nos sucrilhos. Dentro da caixa, pra ninguém ver, nem saber o que é, e ainda assim querer e reclamar se faltasse. Era a piada madura que ela me ensinou a fazer sobre a minha educação, sobre mim mesmo. Sei lá, sobre a vida.

Na minha pequenice, cheguei com alguns passos a mais onde vocês chegam um pouco antes. Meu atraso aberrativo já me fez chorar, entrar em formigueiros, iluminar desconhecidos com minha lamparina, perder presentes que ganhei, conhecer ciganas, apertar as mãos de homens com alguns dedos a mais, e ouvir cigarras cantando baixinho no meu ouvido, me fazendo dormir no meio da tarde. É bom ser pequeno e gostar do medo. Meu tamanho me deu mais tempo de estrada. Minhas pernas curtas me deixaram aceitar o tempo e o estranho.

Abdicar de ser grande me permitiu também dormir em muitas camas, de todos os tipos, com gente que era gente e gente que era bicho. Algumas cheiravam a capim limão, e dessas me lembro melhor. As que ficam são as que já passaram, as que me doem. Sou grato à minha forma grotesca e às memórias ainda mais que dela se originaram. Cresci em ser pequeno.

Um dia as tais pílulas acabaram, ou eu quis que elas acabassem (não me lembro), e minha avó me fez sair de casa muito maior. Disse pra eu inventar, a quem perguntasse, que tinha artrose, elefantíase, ou desse outra desculpa esfarrapada que escancarasse essa mentira inevitavelmente mal ajambrada nesses metros que ganhei. Deixei de andar devagar, de me deitar nos galhos finos, de segurar a maçã usando as duas mãos, de amar alguns, de ler Clarice, de ir ao cinema escondido e de beber água da chuva. Mas que diferença faz?, se hoje já nem sei se um dia de fato existiu tudo isso que não existe mais, ou se inventei esse faltar.

Diz-se que sou o maior homem do mundo, mas meu coração ainda tem o tamanho de uma noz. Por isso tenho saudades disto e daquilo, e talvez de duas ou três coisas mais. Minha avó achava bom que eu fosse menor. E com o tempo eu passei a achar também. Mas eu desisti dessa ideia. (é boba)

Ivan Lins - Lembra de Mim.

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são possíveis saídas pela direita.
esboço para uma possível voz.

A criança que parimos hoje.

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- corrida contra o tempo

- luar no microfone

- fila indiana

- bambolê, bolinha de gude, pique-pega, passa anel.

- amarelinha e elástico.

Saudade dos filhos que ainda não tivemos.

Atenção para o que vem por aí:

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A linda rosa juvenil

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Segunda Unidade: caminhando...

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- HD

- Bexigas + Eu...

- Espera

- 10 passos para encontrar uma pessoa

- Espera

- ????

Verde: materiais de conteúdo, mais faces do mesmo drama. Um diálogo mais direto e mais próximo entre os intérpretes, mas também em relação ao público. Divisão de dificuldades e sentimentos. Essa casa também pode ser sua, assim como essa espera e todo esse tormento. Voltamos aos lugares que anunciamos como sempre iremos voltar ao lugar que nos dá algum tipo de conforto. "Com toda certeza eu não seria que eu sou hoje se não tivesse encontrado você."

- Vermelho: A imagem que dança. O momento onde os suportes são muito importantes. Grande fluxo de informações e imagens. Uma grande teia de significados. Um emaranhado de articulações engajadas. Aonde está você no mapa mundi. Saudade das paisagens que ainda não conhecemos e da foto de Londres que ficou no filme perdido. Saudades de ligar para o interior. Saudades do Lucas Canavarro. Saudades de ser estrangeiro assim com foi Clarice Lispector.

- Azul: Entre-materiais. Movimento e momento de passagem. A transição que precisa ser exata. Momento também aonde se testa o canal, buscando a certeza de que todos estão ali e podem dar o próximo passo. Momento de limpeza de reiniciar o movimento apresentado.

Contribuindo com um próximo material "azul" a gente fecha a unidade.

beijos.

Comentário da Dinda.

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Saudade é uma palavra que implica em dor, mas não em sofrimento.
Me disse hoje pela manhã a Dinda Glóris quando concordava com o texto que escolhemos para o programa do espetáculo.

Acho que estamos no caminho certo parceiros!

=)

Pedaço de Berlim

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berlin, prenzlauer berg. pela saída schönhauser allee, esquerda na schwedterstraße, esquerda na christinenstraße, direita na zionskirchstraße, direita na kastanien allee. rua dos bares, da boemia vespertina e do cheiro de comida estrangeira. entre um bistrô de saigon e uma confeitaria de istambul, um pé-sujo espremido de beirute. listras brancas e vermelhas se revezam no toldo sobre os longos bancos de madeira postos na calçada. muitos pais jovens passam em frente, carregando seus filhos pequenos nas costas, no peito ou na garupa da bicicleta. alguém tira um pacote de tabaco da jaqueta de couro preta enquanto anda. há poucos velhos, e os que se aventuram por lá são bem dispostos e saudáveis. a semidecadência cool do oriente ocidentalizado se faz perceber nas paredes cobertas de grafite e nos estabelecimentos pouco prepotentes, ou um pouco prepotentes, como este de que falo. talvez seja melhor entrar, embora os olhos gostem tanto daqui de fora.

Noite de fotos na Urca

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Trajetória

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Eu descia pelas escadas do décimo para o nono andar. Econtrava com ela, entrávamos no elevador e portaria. Seguíamos na Ministro Octávio Kelly, antiga Rua Barros, até a Miguel Couto ou Lopes Trovão, o que variava de acordo com o nosso humor. Em alguma das duas, dobrávamos a esquerda, pegando Roberto Silveira que andávamos mais três ou quatro quarteirões. Era grande e a entrada pequena. Tinha baleiro na porta e muita gente sentada. Era bonito. E eram sempre seis e quinze da manhã.

Saldão dos Textos:

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- Narração das cidades: Lucas
- Jardim: Luar
- Ulysséa: Caio
- Marlene: Luar
- Narração dos homens: Caio
- Madrugada: Caio
- Gaveta: Luar
- Era primavera: Caio
- Carta em inglês: Lucas
- Carta em português: Pedro
- HD: Lucas

é cada um com o seu cada qual.

Primeira Unidade:

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- Mato
- Ulysséa
- Marlene
- Marlene
- Gaveta
- Carta
- Carta
- Mato

Verde: Inicia e finaliza o movimento da primeira unidade. Dar e receber. Calmaria, viagem, paisagens sonoras. Afetos que se atravessam. O corpo em movimento, a imagem animada. Estar é bom.

Vermelho: entre-materiais. Uma cadeira para a sua solidão. Uma confissão que não é adolescente. Olhos nos Olhos. Passagem, um palpite a qualquer hora. Que ano é hoje? Eu queria lhe dizer essas coisas, assim... só para dividir mesmo. Que bom que eu lhe trouxe aqui. "Felicidade Clandestina".

Azul: Conteúdo. Possibilidades para uma possível história. Senta aqui que eu vou lhe contar. HUM. Aquela múscia, aquele cheiro, aquelas ou essas pessoas. Um casal, dois casais. Ficção e realidade. "Essa história, são todas as histórias".

Para dar sentido.
Para falar a mesma língua.

um beijo meus amores.
=*

primeiro esboço 1. png

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Badeschiff/Arena Berlin

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Não sei a referência do autor.

Kevin Hunt

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Cracks of Dawn

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Cliquem nas fotos para vê-las maiores.
Resto da exposição aqui.

Por Maria Luiza Vianna

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Para matar uma saudade: BACK TO THE FUTURE: IRINA WERNING



Eu lembro de ficar esperando linha

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COLUNA DA REVISTRA O GLOBO (13/02/2011)

Obsoleto

Eu sou do tempo do papel carbono, do fax, do telex. Eu sou do tempo do telefone com fio. Do número de telefone com seis dígitos (o meu era 576358). Do tempo em que se ficava esperando linha.

Eu sou do tempo da CTB!

Eu sou do tempo da máquina de escrever, da régua de cálculo, da introdução à ciência dos computadores, da tabuada. Das aulas de Educação Moral e Cívica, de Trabalhos Manuais, de Canto Orfeônico.

Eu sou do tempo do Grupo Escolar.

Eu sou do tempo do Kibombom, tempo da Cuba Libre, da cascata de camarão, arroz de forno.

Eu sou do tempo do arroz doce de sobremesa.

Eu sou do tempo da prancha de isopor, do maiô de duas peças. Tempo do sapato Vulcabrás, da calça boca de sino, da miniblusa.

Eu sou do tempo dos moldes de Gil Brandão.

Eu sou do tempo em que era uma pena a televisão não ser a cores, tempo da mensagem do nosso patrocinador, das boas casas do ramo.

Eu sou do tempo em que a TV tinha botão de ajustes para vertical e horizontal.

Eu sou do tempo do sheik de Agadyr, de Demian, o justiceiro, da minha doce namorada. Tempo de Gladys e seus bichinhos, do Câmera 1, do Rio Hit Parade.

Eu sou do tempo da garota-propaganda.

Eu sou do tempo do cartão postal e do telegrama. Sou do tempo do gravador de $, do compacto simples, do tempo do Long- Play.

Eu sou do tempo dos festivais, do Cinema Novo, do teatro de protesto. Sou do tempo da Leila Diniz, da Brigitte Bardot, da Luciana Paluzzi. Do tempo da Eliana Macedo, da Nádia Maria, da Zezé Macedo.

Eu sou do tempo da Sonia Mamede!

Eu sou do tempo em que se assistia a estreias de filmes do Hitchcock, em que tinha teatro no MAM. Sou do tempo do baile no Municipal, das escolas de samba na Presidente Vargas, do concurso de misses no Maracanãzinho.

Da Bethânia no Teatro Miguel Lemos, da Elis no Teatro da Praia, do Caetano no Terezão.

Eu sou do tempo do Estado da Guanabara.

Eu sou do tempo da Barbosa Freitas, do Príncipe, que vestia hoje o homem de amanhã, da Ducal, das Mercearias Nacionais, da sloper. Sou do tempo da cama Dragoflex, da cadeira do papai, do cigarro sem filtro. Do tempo da Panair, da Cruzeiro do Sul, tempo em que se ia à Europa de navio.

Eu sou do tempo da Varig.

Tempo da praia em frente à Montenegro, do Zeppelin (o bar, não o dirigível), do Beco da Fome. Da fantasia de tirolês, do Almanaque de Férias da Luluzinha, da domingueira no Piraquê.

Eu sou do tempo do Tivoli Parque.

Eu sou do tempo em que a nota de mil cruzeiros era chamada de Cabral. Eu sou do tempo...

Marina Abramović

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Para Luar.

Pra pensar, talvez, na cadeira da confissão e na gaveta das coisas desperdiçadas. Não sei se exatamente pra esse momento. Essa obra me faz pensar em mil coisas, na verdade, que nem sei se vou tentar enumerar, porque acho que eu fracassaria.

Se chama "The Artist is Present", e consiste em uma mesa com duas cadeiras, com M.A. sentada numa delas. O público se reveza pra se sentar de frente pra artista, do outro lado da mesa, e poder encará-la durante alguns minutos.








["Eu nunca tive saudade igual". (Dorival Caymmi)]

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Eu nunca mais amei um homem.


(Dessa saudade que arranca todo o ar do peito, ou é o que parece.)




Moments

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De Will Hoffman.

Chuá

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O feminino de Ulysses

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Minha mãe se chama Ulysséa. U-L-Y-S-S-É-A. Aprendi a soletrar desde cedo, e a vi repetir essa sequência de letras para os outros infinitas vezes. Ulysséa é o feminino de Ulysses, nome do meu avô, que nasceu e morreu em Pernambuco. Meus pais vieram pro Rio de Janeiro e foram os primeiros moradores do prédio onde até hoje vivemos. Alguns anos depois deles, vinda de São Paulo, alugou apartamento no outro bloco uma mulher também chamada Ulysséa. U-L-Y-S-S-É-A: mais alguém também aprendeu a soletrar desde cedo. Tipo de acontecimento raro em que duas pessoas com uma característica singular em comum se encontram em um ponto qualquer de desvio em suas trajetórias. Um dia, essa tal Ulysséa que não era minha mãe foi embora do prédio e nunca mais ouvimos falar dela. Acho que minha mãe deve sentir falta de ter uma xará. Deve ser ruim não ter xará. São saudades bobas, como todas as mães.

darwin deez - dna [director's cut]

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Enviado por Maria Luiza Vianna.
Uma graça de lindo.

Teatro em miniatura

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The Ice Book (HD) from Davy and Kristin McGuire on Vimeo.

Pra começo de conversa.

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Talvez, em alguns momentos do dia sinto fragmentos da maior saudade da vida. agora.

Quatro pernas > Pro ar!

Embola tudo na garganta: o dia em que se encontraram na primeira vez. Loja de móveis. Como seria a nossa casa? First Date.

Sentam os dois no sofá. Bege. Frente a uma tela imensa. Caixas de som ao lado. Som de silêncio. Tímido. Ensaiamos cada fala na cabeça todas as vezes antes de serem ditas. Só sairam alguns ruídos. palavras soltas.

Ela, eu cruzo uma perna na outra minha. (é difícil quando elas são muito grossas) charme falido. Perdem-se ainda mais algumas palavras. Ele olha a tela, refletem as pernas cruzadas.

- Você já viu As horas?

Ele levanta o braço, olha o pulso e engasga o rítimo. gagueja:

- ci cinco horas.

Uma gargalhada! O pulso é tensamente apoiado no encosto do sofá, cheiro de perfume.

- As horas! O filme. (Ela. rindo. descruzando as pernas e enfiando a cabeça entre as coxas. Mãos apoiadas nos joelhos. )

Ele, então, repousa o pulso. Ela cospe o chiclete na lixeira à venda. Acabam aí as intimidações.(pra começo de conversa).

Saudades das nossas conversas com as pernas pro ar, ou enrroscadas no sofá da nossa casa.

Dois lugares

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Conta o vento contra as horas. Peste da fala e praga do corpo, a ansiedade: por qualquer vômito que não faça mal. Da casa mobiliada, o assentamento, a paz, a calma, o rim, a espera, o tédio, o peixe, a expectativa do fim pelo que falta. Nem eu nem ele vamos chegar com as notícias de amanhã (melhor não fazer café). Vou sentar no banco de três tabelas de frente para a praça vermelha. Talvez eu leve comigo o saco de castanhas que comprei, jogue lâmpadas incandescentes no chão para a criança pisar com botas de neve. Me dê alguma coisa estúpida pros olhos, por fim. Para tanto halogênio, deve haver algum ar que se possa respirar. Conto o tempo contra as portas e já prefiro não achar, mas continuo pintando cenários.

Melhor dormir sem alarmes -- minha cabeça já os tem pelas tabelas, e de todo modo não entregam jornal por aqui. Não consigo mais vender meu silêncio, por isso continuo roubando as tremas dos outros com minha lábia. Me parta em dois se quiser, já não faz diferença alguma. O meio é longo e tem seu próprio início e seu próprio fim -- não bastasse isto para o detestarmos, além de tudo não é possível dissolvê-lo ao mexer com a colher. Não sei se devo usar as taças de cristal. Para não quebrá-las, canecas monocromáticas com caracteres japoneses. Não por gosto, por cautela.

Vou jogar fora meus lençóis brancos. Eles já não servem mais, de tão sujos.

Volto já.

Promenade

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Marc Chagall

Todo este mato que cresceu pelas paredes ao redor de nós.

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Aduba, aduba!

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Começo a aumentar as passadas, em pouco tempo já terei de correr no meio de todo esse mato. turbilhão de pensamentos. Falta muito ainda pra quinta(ansiedade). quero veramar tudo isso ao redor.

Por Ricardo Lemos no Facebook

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A saudade é cada dia mais forte. Lido melhor com a morte do que com tudo isso, na morte tenho certeza de um fim. =)

Agendinha online:

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Para organizar:

- saudade no chão: a história da bromélia arrependida. interferências: problemas climáticos, cores e etc. saída: junção para o abraço.

- quando a vida lhe prega uma peça: pentelhos.

- jardim + declaração de amor em cena de filme mudo + fragmentações do discurso em duas línguas: inglês e português.

- gesto da boca, da nuca, do corpo. remar pelo corpo.

- partitura que se derrete na cadeira.

- arara.

Olafur Eliasson

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Saudades Imediatas

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Arcade Fire - The Suburbs (continued)

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If I could have it back
All the time that we wasted
I'd only waste it again
If I could have it back
You know I'd love to waste it again
Waste it again and again and again

I've got to ask
Sometimes I can't believe it
I'm moving past the feeling again

Por Zezé Freitas (saudades de mãe)

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Da Venezuela (Maiquetia) para o Brasil (São Paulo):

Meu vôo para São Paulo sairia em onze horas. Este aeroporto, como tudo na Venezuela, possuía temperatura que se assemelhava à do pólo norte, tampouco tinha bancos ou cadeiras para passageiros que porventura quisessem aguardar seu vôo. Imagine esperar onze horas em um local assim? Fomos a uma lanchonete que estaria aberta até as 22 horas, tomamos um suco, Bruno gravou uma mensagem na câmera fotográfica.

Caminhei mais um pouco pelo aeroporto e encontrei três poltronas que utilizaríamos durante toda a noite enquanto aguardássemos meu horário de vôo. Em meio ao silêncio; discussão; confissões; promessas; cansaço; sono e lembranças, Bruno fez um colar pra Carol, uma coleira pro Juka e um anel pra mim. O colar azul, por ter a cara da Manoela, foi morar em seu pescoço, a coleira do cão, por ser larga, aguarda um reajuste e o anel, por ser incômodo, repousa no armário. Amanheceu, fiz meu check in, nos abraçamos e enfentamos a separação. Dolorida partida.

Enxergo, ainda que de olhos cerrados.
Inundo-me de amor com suas palavras.
Rego a alma com sua ternura.
Sou feliz!

Nina Becker - Lágrimas Negras

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Conheci essa música na viagem. Gosto da batida como referência para o nosso tema.

Carolina mandou essas fotos:

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Ela está com problemas na conexão em Sampa e não consegue postar no blog. São de um artista cubano.
ps: todos precisam conhecer Inhotim.


Tralálá

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queria que quarta-feira fosse amanhã.

já estou no rio.
com medo e querendo.

vamos criar meus amores.
pois o tempo corre nos relógios.

beijos em todos.

Cartografia do corpo

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Meus pés sentem falta da maneira com que ele costumava tocar neles.

As batatas da perna, acho que sentem saudades de ficarem doloridas de tanto sustentar o corpo na ponta dos pés.

A bacia sente saudade do molejo que tinha quando dançava “La vie em rose”.

Meus seios não sentem a falta de nada. Acho que eles têm memória curta, se adaptam fácil a cada realidade. Acho que isso é uma qualidade.

Meus ombros sentem vontade de sentir de novo a sensação de caminhar no campo de flores altas. Ele ficava no jardim da casa da minha outra avó. Eram flores amarelas que batiam bem na altura dos meus ombros baixos.

As costas sentem a falta da maneira como minha mãe tocava nela, quando costumava ficar sentada muito tempo no seu colo.

A nuca não se esquece de quando os cabelos foram curtos.

Minhas mãos sentem a falta de brincar com a pele já envelhecida das costas das mãos da minha avó.

Minha boca sente falta da companhia noturna de uma chupeta.Companheira fiel até os oito anos.

Meus olhos queriam muito ver de novo o sol se por da varanda da Sain Lazarre 28, enquanto a música do acordeon vinha lá de baixo e entrava pelos meus ouvidos. Tinha certeza que ia sentir saudade desse momento, mas não há jeito de se evitar uma saudade dessas.

Por Otávio Borba

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A referência sobre o autor da foto foi perdida. Quem souber, por favor, contribuir.

Hoje de manhã sonhei uma saudade

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sonho #074
24.01.11

tentei me olhar no espelho. minhas pernas não alcançavam mais a bancada da pia. subi no vaso sanitário, mas não sem antes ponderar que a louça poderia quebrar com meu peso. vi meus olhos no espelho; estes permaneciam absolutamente idênticos, embora em sua cor e em sua forma e em sua profundidade alguma coisa tenha sido ganha ou perdida com o voltar do tempo (isto não está claro). sorri um sorriso de seis ou sete dentes, todos espaçados, estalactites de cálcio que pendiam das minhas gengivas. ri do meu sorriso de palhaço, o que me deu ainda mais vontade de rir. minhas mãos não cobriam mais meu rosto inteiro: mal davam para as bochechas. o velho espelho retangular com moldura de madeira suja de pasta de dente já não existe há mais de dez anos. mas pressionei meu rosto contra ele para ver a elasticidade tesa da minha pele branca. no pedaço do meu rosto que compreende a região entre a boca e o nariz, uma marca de catapora -- a única mancha na pele. olhei para meus braços, gordos como os dedos de minhas mãos. não havia pêlos e não havia miopia. apertei uma mão minha contra a outra e gargalhei. gargalhei! ninguém conhecia esse meu segredo. abri a porta do banheiro e fui andar de patins.

Saudade de ontem:

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Ressaudade

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O que me parece, e que já foi algumas vezes abordado em conversas nas mesas de bar (algumas delas, aliás, que eu gostaria de ter transcrito para posterior publicação aqui) ao pensar este projeto, é que não há em todos nós, necessariamente, uma ou mais saudades latentes. Isto, na verdade, faz do processo senão algo ainda mais instigante, já que tentamos fazer mais do que puramente um "inventário de saudades" (como eu afirmei em meu primeiro post aqui), mas sim uma investigação do que difere saudade, lembrança, memória e nostalgia, entre outras representações semânticas das coisas que nos faltam -- e me desculpem os demais construtores dessa obra quando escrevo algumas frases na primeira pessoa do plural; o faço não menos por estilo do que por representatividade coletiva, mas também com a desconfiança de que falo por concordância geral.

Seja a saudade real ou mera lembrança de um sentimento finado (saudades são sempre finitas?), dado o devido distanciamento emocional, ela pode servir como objeto de estudo para uma série de conclusões. É na falta que sorrateiramente se cria novas presenças, e que o homem concretiza aquela que me é sua característica mais cara e fascinante, que é a capacidade de mudar. Essa minha visão particular do produto final da falta já foi dividida com alguns de vocês nas tais conversas do primeiro parágrafo. Penso que a língua portuguesa tem papel fundamental na trajetória dessa conclusão. Somos privilegiados por saber desde sempre o que é a saudade, esse que talvez seja o mais rico dos substantivos no que quer se referir à ausência. Isso me levou a muitos lugares hoje; pensei na dor dos fados, nas ruelas de Lisboa, na Praça XV, em Fernando Pessoa, nos viajantes e nos becos do Arco do Teles. Até que me lembrei dessa divagação do Caetano sobre "Chega de Saudade", em "Verdade Tropical":

"(...) O título e a letra sugeriam uma rejeição/reinvenção da saudade, essa palavra que é um lugar-comum na lírica luso-brasileira e um emblema da língua portuguesa, pois, além de ser um acidente etimológico inexplicado, cobre um campo semântico revelador de algo peculiar em nosso modo de ser."

Agora que, a meu ver, estamos iniciando um novo momento neste projeto, e que mais algumas diretrizes e objetivos foram delineados e apontados, sinto que a tal produção de saudade de que tanto começamos a falar desde que percebemos como é, pelo menos para alguns de nós, este processo todo, pode nos levar a caminhos enormemente esclarecedores e a infinitas possibilidades de jogo cênico. A saudade, por ser nossa, pode ser resgatada, reciclada, remanejada, rejeitada e reiventada, porque ela própria é algo próximo de uma recriação constante daquilo que não é mais, e que, ainda que não seja, precisa de um nome.

Sobre este blog como a primeira etapa da produção de saudade

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"(...) E nessa época Michel Leiris estava morto havia onze anos e fazia mais de cinquenta que ele havia escrito que 'a atividade literária, no que ela tem de específico como disciplina do espírito, não pode ter outra justificação a não ser iluminar certas coisas para si próprio ao mesmo tempo que elas se tornam comunicáveis para outrem, e que um dos objetivos mais elevados (...) é restituir por meio das palavras certos estados intensos, concretamente experimentados e tornados significativos para serem postos assim em palavras' e eu dizia a mim mesmo que todo mundo deveria começar por aí." - Grégoire Bouillier

Cheiro das missangas de plástico da fantasia de baiana.

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Saudades dos carnavais que passei nas outras vidas. Pra justificar tamanha nostalgia que me toma, as marchinhas.

1996, quando a gente tinha 7 anos, talvez 8.

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"Sei que serei esquecida
Assim é a lei do mundo
Um sonho doce e profundo
Dura apenas um segundo
Amor, amizade, paixão
Depois sonhos que se vão
E ficarão apenas saudades
Saudades no coração." (Laurinha)

A Pixar e a saudade

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Pra mim, dois dos momentos mais célebres do cinema na década que passou.



Armário de vó

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Passava as tardes vestindo as coisas da minha avó.

Que saudades.

Saudades de quando a gente era junto

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Minha mãe, minhas irmãs e eu.

é só o que penso e escuto no momento.

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Tem mais presença em mim o que me falta

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Gente essa é uma filmagem horrível do meu solo de dança.
Espero que dê pra ter uma idéia.

Minha mãe me lembrou onde estava (outras coisas que perdi)

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Sonhei hoje que tinha esquecido um caderno do tamanho de um barco flutuando num lago, e todo mundo que passava escrevia nele usando uma árvore com ponta de grafite.

UM PRÉDIO DE AFETOS.

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A Falta que nos move

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Produção de saudade:

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Saudade de deitar ao seu lado, fumar um cigarro com você. Saudade de lhe ver sentado no computador em frente a cama. Saudade de, sem olhar para o lado, esticar os braços e alcançar o celular. Saudade da parede, da cama e também da porta. Saudade de ir a padaria, ao posto e, principalmente, ao bingo. Saudade de olhar nos olhos, ouvir mil vezes o mesmo cd e fazer penteados durante a madrugada para derrubar a rotina. Saudade dos ensaios de fotos, dos milhares de desenhos e cartas. Saudade de dar e receber presentes bobos. Saudade dos relógios de criança, dos cadarços e cabelos coloridos. Saudade de não ter nada para fazer e achar incrível. Saudade de levar a cachorra para passear, cozinhar apertado e compar coca-cola nos fins de semana. Saudade das pizzas de domingo e da cerveja estúpida no bar da frente. Saudade de colecionar postais, recortes de revista e jornal. Saudade de passar a semana pensando em você. Saudade da van, da ponte e do ponto. Saudade até dos engarrafamentos. Saudade é coisa que eu posso produzir assim: lembrando.

Falta IV

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Se a falta depende da perda, essa é uma das maiores da história da humanidade.

 

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