Ressaudade

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O que me parece, e que já foi algumas vezes abordado em conversas nas mesas de bar (algumas delas, aliás, que eu gostaria de ter transcrito para posterior publicação aqui) ao pensar este projeto, é que não há em todos nós, necessariamente, uma ou mais saudades latentes. Isto, na verdade, faz do processo senão algo ainda mais instigante, já que tentamos fazer mais do que puramente um "inventário de saudades" (como eu afirmei em meu primeiro post aqui), mas sim uma investigação do que difere saudade, lembrança, memória e nostalgia, entre outras representações semânticas das coisas que nos faltam -- e me desculpem os demais construtores dessa obra quando escrevo algumas frases na primeira pessoa do plural; o faço não menos por estilo do que por representatividade coletiva, mas também com a desconfiança de que falo por concordância geral.

Seja a saudade real ou mera lembrança de um sentimento finado (saudades são sempre finitas?), dado o devido distanciamento emocional, ela pode servir como objeto de estudo para uma série de conclusões. É na falta que sorrateiramente se cria novas presenças, e que o homem concretiza aquela que me é sua característica mais cara e fascinante, que é a capacidade de mudar. Essa minha visão particular do produto final da falta já foi dividida com alguns de vocês nas tais conversas do primeiro parágrafo. Penso que a língua portuguesa tem papel fundamental na trajetória dessa conclusão. Somos privilegiados por saber desde sempre o que é a saudade, esse que talvez seja o mais rico dos substantivos no que quer se referir à ausência. Isso me levou a muitos lugares hoje; pensei na dor dos fados, nas ruelas de Lisboa, na Praça XV, em Fernando Pessoa, nos viajantes e nos becos do Arco do Teles. Até que me lembrei dessa divagação do Caetano sobre "Chega de Saudade", em "Verdade Tropical":

"(...) O título e a letra sugeriam uma rejeição/reinvenção da saudade, essa palavra que é um lugar-comum na lírica luso-brasileira e um emblema da língua portuguesa, pois, além de ser um acidente etimológico inexplicado, cobre um campo semântico revelador de algo peculiar em nosso modo de ser."

Agora que, a meu ver, estamos iniciando um novo momento neste projeto, e que mais algumas diretrizes e objetivos foram delineados e apontados, sinto que a tal produção de saudade de que tanto começamos a falar desde que percebemos como é, pelo menos para alguns de nós, este processo todo, pode nos levar a caminhos enormemente esclarecedores e a infinitas possibilidades de jogo cênico. A saudade, por ser nossa, pode ser resgatada, reciclada, remanejada, rejeitada e reiventada, porque ela própria é algo próximo de uma recriação constante daquilo que não é mais, e que, ainda que não seja, precisa de um nome.

3 comentários:

Caio Riscado disse...

MORRI.

casa comigo?

Lucas Canavarro disse...

só se formos morar em copacabana.

Luar Maria disse...

Pode escrever na primeira pessoa do plural. Por favor.

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