Morrer de Saudades II

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As pessoas vêm aqui e me dizem que eu tenho que sair desse coma porque elas querem me ver bem. Você não vem aqui porque você não quer me ver em coma; talvez me ver assim seja pra você a confirmação de que esse coma não é meu, é nosso (estar em coma é a dor que se sente quando amputam a alma). Se um dia eu soubesse que você estava assim, eu também não iria te ver, porque mesmo que eu entrasse nesse quarto e te visse, eu não iria te ver. Preferir entrar nesse quarto seria o mesmo que preferir não entrar, então por quê? Melhor não. Melhor não vestir uma roupa, não tomar o café da manhã, não me arrumar na frente do espelho e não pegar o carro. Eu não faria nada disso, só pra não te ver. As pessoas me dizem que você também está doente, mas eu nada posso fazer. Torço, de modo doentio, pra que sua doença te traga mais pra perto de mim, porque sei que de onde estou existem duas maneiras de sair, e a mais perto delas, a que pode me matar as saudades de você, é, pra mim, onde a gente estaria o mais perto possível. Se for pra ser assim, eu prefiro. Quero que alguém entre nesse quarto e me diga que você foi pra onde é mais perto, pra onde eu consigo chegar sozinha. Sei que o nosso coma fez com que você sentisse a minha falta, e eu também não aguento mais morrer assim: sem você, mais do que sem mim. Eu prefiro que todas as pessoas que vêm aqui e me dizem que eu tenho que sair desse coma porque querem me ver bem continuem vivendo sem mim e passem a viver também (tampouco) sem você, se você também preferir assim, porque só assim eu vou ficar bem. Melhor assim, então, eu acho.


Considere esta ideia, e, se você for, mande alguém me avisar, porque quero ir também.

Um beijo, com amor,

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