Para mim é assim :

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Deito no chão ajustando meu corpo a posição que acredito estar correta. Correta tanto nas minhas relações internas (penso no direcionamento dos ossos no espaço e musculaturas tencionadas) quanto na minha relação externa ( será que estou igual ao Caio, que está ali, do meu lado direito?)

Quando os passarinhos começam e o meu olhar encara o teto, sempre dou uma respirada mais profunda e me sinto deitada numa grama, olhando o céu azul com nuvens e um solzinho gostoso que me esquenta. Como costumava fazer nos jardins de Paris.

O Lucas começa a falar e a cada lugar que ele fala vou com ele, é como se a minha paisagem se modificasse a cada saudade. Nas escadas do 28 sempre penso se a minha mãe vai escutar e sentir a mesma saudade que eu sinto daquelas escadas ,que fizeram parte da nossa vida durante seis meses.

Ouço algo parecido com gansos irritados e sei que a valsa vai começar. Volto para o jardim de Paris. Levo o braço direito para cima tentando tapar o sol que me atrapalha observar alguma nuvem que me chamou atenção. A seqüência de movimentos continua e é muito prazerosa. Adoro apoiar as mãos atrás e espreguiçar. É o movimento que precede minha primeira encarada com o publico. É prazeroso, me sinto a vontade. Sou muito Luar ali.

A fala do jardim é pra mim o resultado desse estado que eu e Caio viemos construindo, durante toda a partitura de movimento, deitados na grama e olhando as nuvens. Sinto muita vontade de compartilhar naquele momento que eu tive um jardim um dia, quando eu acreditava nas pessoas e nas relações. Mas que hoje eu mesma rio disso. Que idéia boba, o Lucas também acha. Só as araras mesmo...

Caio me deixa e tudo muda. Agora estou ali, em cena. Meu corpo é outro, bem mais tencionado. Repito a partitura mais uma vez sozinha e um pouco desconfortável, escuto a história sobre Ulissea e penso que não posso demorar, pra dar tempo de vestir Marlene com calma.

Colocar o vestido é como ativar a memória de Marlene. Tenho que dizer que tenho uma tia com esse nome, a irmã da minha avó. Que delícia a música! Dançar com o Caio é muito prazeroso! Admito preferir que estivesse só nos dois, o Pedro e o Lucas. Tenho que admitir que me critico um pouco, mas me divirto. Fico tensa com o tempo da música e com caminhadinha minha e do Caio. Relaxo depois do gole no Martine. Sinto-me numa festa, contando aquela história pra um amigo querido. Me emociono. Como os homens são cafajestes com as mulheres. Isso realmente me abala, mal consigo contar a história novamente. Me preocupo um pouco com o tempo do cartão, penso nas observações do Pedro.Não consigo ver a Marlene de Copacabana direito. Minha tia Marlene mora em Copacabana.

Encontro o Caio e fazemos a partitura juntos. Agora Marlene é um pouco do sofrimento de cada um. Fico com a sensação que todos que estão nos olhando têm vontade de dançar aquela partitura.

Nos giros me misturo muito com Marlene. Até que ela nos deixa, por completo.

Me emociono com o texto da sacada apesar de ser difícil pra mim ficar ali, só o observando o Caio dobrar o vestido.Pegar alguém da platéia vai ser difícil pra mim.

Me emociono na gaveta . A música do Pedro. Sempre que tem alguém me emociono mais e sinto que a pessoa também. Realmente : tem mais presença em mim o que me falta. Eu sou assim.

A carta é um momento bem difícil pra mim. Me sinto muito exposta , frágil. A fala do Lucas sobreposta a do Pedro vai me afetando cada vez mais. Meu corpo cansado vai me fazendo esquecer um pouco a exposição, acho que vou ficando mais forte. No entanto Caio continua sem me olhar. Quanto mais cansada eu fico, mais faço pra mim e menos pros outros,menos pro Caio. Entro numa pira só minha, mas sem deixar de ser afetada pela situação.

O pulo é o esgotamento total. Mal consigo respirar. Fecho meus olhos e me escondo na nuca do Caio enquanto ele fala do Jardim sentindo meu peso.

É bom voltar para a partitura do inicio. Sinto falta de alguma musica. Acho tenso.

Assim como a Caio me sinto numa sala de aula, ou talvez num consultório ouvindo o Lucas. Olho fixamente a radiografia.

Tentar encher a bola e não conseguir.Tentar colocar pra fora tudo aquilo de mais íntimo e difícil de ser dito.

Movimentos de espera num estado de espera. Um pouco apático. A ansiedade só vem quando ultrapasso o Caio. Ali sim, eu estou esperando alguém que eu quero muito que chegue logo.

O diálogo é cada dia mais prazeroso. Cada dia somos um. Sempre na estação de trem.

Tudo é uma questão de timing. Eu realmente acredito nisso. Acho uma delicia voltar com Marlene.

Adoro traçar uma diagonal no palco com passos pesados depois do cisne.Tenho um objetivo.É difícil falar o texto do Lucas rápido. Tenho medo do microfone. Saudade de quando ser simples. Azeite.

Por incrível que pareça não me critico na criança. Fico bastante a vontade. Sem medo de ser ridícula. Gostava muito de Xuxa contra o baixo astral. Minha mãe era amiga do Guilherme Karan, ele ainda existe? Quero rever o filme.

Meu estado de suspensão é difícil no inicio, mas sustento. Difícil não reagir ao Caio.Sustento. Sair dando uma risadinha é sensacional. Me sinto voltando ao jardim: que coisa boba!

Troco de roupa ouvindo atentamente a tudo que o Caio fala na gaveta. Gosto muito, acho que a primeira gaveta sou muito eu e a segunda muito ele. Adoro. Acho muito rico esse encontro.

Os monstrinhos me afetam muito. Engraçado, são as formas que se tornam movimento e que me atravessam. A fala só intensifica. Sofro mais a cada vez que vou ao chão.

Dançar o solo naquele momento é difícil. Mas encerra um ciclo pra mim. Importante. A fala da procura por alguém é que me dá a qualidade do movimento de todo o solo.

Novamente pego alguém da platéia e digo que tenho muita saudade da minha avó, mãe do meu pai. Falo dela e da sua casa em são Paulo, que a gente ia sempre perto do natal. Conto tudo com detalhes, me emociono e que está comigo também. É bonito.

Depois que paro de falar fica difícil pra eu sustentar aquela relação ali, frente a frente com a pessoa. Mas é isso. Vou aprender. O áudio me emociona. E vai me ajudar. Tenho que parar de ser boba.

1 Comentário:

Gustavo disse...

você me emociona...

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