Correspondências

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Resgatei no meu e-mail as respostas que recebi de alguns amigos em 2008, quando perguntei se achavam que saudade dá e passa :


"Saudade não passa, não.


Tenho saudade de tudo que eu já vive.

As vezes tenho saudade do que não tive também.

É serio, qnd vc pensa no que poderia ter acontecido se vc não fosse tão estúpida e fica com saudade... de ser uma coisa que vc nunca foi, talvez.



Me sinto estúpida muitas vezes por sentir saudades demais.

Sinto saudade até de quem esta bem pertinho de mim.

Me pergunto se as coisas valem a pena quando no fim das contas viram saudade.

A saudade é o mal daqueles que esperam das coisas a eternidade.

Essa bobagem toda de ter que viver no presente é pura verdade.

Saudade não passa por que quem já sentiu saudade não quer que ela volte nunca mais.

Fica com medo e sente mais saudade. Aí a saudade vem na forma daquela felicidade eufórica de querer que nada disso acabe nunca.

Um dia ouvi de um namorado, quando menina, meu que queria parar ali pra não estragar a saudade.

Acho que ele tinha razão."





"Outro dia estava relendo umas cartas que troquei com uma grande amiga minha que passou uma temporada na europa.

Em uma dessas cartas ela começou a falar sobre saudade, no fim da qual ela deixou a seguinte pergunta: Saudade dá e passa?

Fui incisivo e respondi em duas palavras. Isso mesmo mandei pelo correio, uma carta para a Europa contendo somente duas palavras. Sim, passa.

Na verdade isso não correspondia a minha real opinião e eu tinha plena consciência disso enquanto escrevia minha resposta. Acontece que sua pergunta me pareceu de tal modo um pedido, e não um questionamento retórico, que coloquei no papel aquilo que acreditva ser o que ela queria ouvir.

A primeira coisa que pensei, exatamente na hora em que lí a pergunta, foi na diversidade das saudades. Existem saudades e saudades, e certamente algumas passam, outras não.

Mas nesse momento, não quis pensar nas outras saudades. Visualizei as saudades da minha amiga. Sua cidade, sua família, seus amigos, seu namorado. Enfim sua vida. Quando ela falava de saudade, então, só poderia estar se referindo a isso tudo.

Mandei a resposta, convicto de que fazia a coisa certa, mas só fui perceber dois detalhes muito relevantes depois que já a havia postado no correio.

Entendí a pergunta de minha amiga como um pedido. senti nela o intenso desejo de que a saudade fosse esgotável, e, querendo confortá-la, respondi aquilo que, no fundo, quem mais desejava que fosse verdade era eu mesmo.

Acho que isso aconteceu porque a saudade que me dominava na época era muito mais forte do que todas as outras saudades que eu tinha, e assim, na hora de responder, eu só respondí por ela.

A capacidade de uma saudade de ser conflituosa é algo espantoso. Assim como ela é gostosa, ela é triste e da mesma maneira que é acolhedora ela consegue ser um deserto.

No meu caso, apesar dessa dualidade, eu tinha a certeza de que o melhor pra minha vida era que a saudade passase o quanto antes, e eu desejava muito isso exatamente porque, naqueles dias, eu tinha a sensação de que ela não passaria nunca.

A saudade tão forte, que dá vontade de viajar no tempo, quer ser soberana, quer diminuir as outras saudades. As vezes elas, tão infladas, são as únicas que conseguimos enxergar.

Na hora que lí a carta, só enxerguei a minha saudade soberana, e também só enxerguei a saudade que eu achava que dominava minha amiga. E aí respondí errado.

Luar, toda a saudade que tem do Brasil vai passar. Você volta. Mas esqueci de algo importante. Você continua VIVENDO na Europa e certamente por aí, já conheceu pessoas, lugares e situações que talvez nunca volte a ver na sua vida.

A saudade dessas coisas não vão passar nunca. "

1 Comentário:

Caio Riscado disse...

eu gosto da segunda resposta.
gosto meu.

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