Pela falta nas falhas do corpo:

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Começando pelos pés: os meus dedos sentem a falta das pedras portuguesas, do azulejo da piscina, da rua de terra batida e das sandálias de borracha. sentem a falta de beliscar as pernas de outro homem e também que ele lhe corte as unhas. os peitos de meus pés sentem falta da bola pouco batida, do gol nunca acertado e das queimaduras de sol, férias em búzios - geribá. Os meus tornozelos sentem falta das trezentas e cinquenta mil fitinhas do senhor-do-bom-fim que já carregaram. Sentem falta da tatuagem que ainda não está presente, mas chegará em breve. Sentem falta do all-star preto de cano alto e cadarços coloridos, clubber time. Do joelho para baixo, as minhas pernas sentem a falta de roçar nas suas, de quando um pouco menos de cabelo as habitava. As batatas sentem, constantemente, falta de qualquer tipo de massagem ou toque. Sentem a falta dos bandaids, da dor da queimadura no cano de descarga da moto e de poder ver e contar pintas ou sinais. Os meus joelhos sentem falta das suas mãos, dos arranhões e machucados esporádicos. Sentem falta de um chão duro, de apoio e carinho. As minhas coxas sentem falta do tesão, do arrepiar dos cabelos e de suas mãos bravas. Sentem falta da pinta grande, do movimento de ir e vir de um ou mais romances. Sentem a falta de perder o juízo, de um bom travesseiro entre elas, desenvolvendo e revelando novas e delicadas entranhas. No meio e superior a elas: o meu sexo. Este sente falta do pouco que já viveu. Sente falta de ser amado, manipulado e desejado. Sente falta do riso bobo, das manhãs sem rumo e compromisso. Sente falta das cuecas largas, de trocar as roupas e ficar dependurado, balançando. Sente falta de ar. O meu sexo, talvez, seja reflexo de todas as minhas faltas. O meu quadril sente falta de bailar, dançar, nadar e correr. Sente falta de ser segurado pelos ossos, expremido, puxado para frente e para trás. É do meu quadril a maior falta: agito. A minha barriga sente falta de quando tinha menos gordura, menos cabelo e menos problemas na pele. Sente falta de sentir frio, de se arrepiar por inteiro e sem pudor. De ser colorida, gozada, batida e mordida. De ser bonita, corada e, ao mesmo tempo, sem graça. De ser tímida, pequenina e de ser beijada. Os meus peitos poucas faltas sentem. Talvez, tenham vivido ainda poucos episódios. Os meus ombros sentem falta de quando não eram estranhos e grandes demais para os meus braços. Sentem falta também de serem ombros comuns e não estalados, como hoje o são. Os meus braços sentem a falta de seus abraços, carícias e contato. De rolar na cama, arrumar e dobrar a colcha. Sentem falta de quando tinham menos cabelo, espinhas e folículos inflamados. As minhas mãos sentem falta de dar as mãos e do peso de alguns anéis que, um dia, pensei em usar. Sobre o meu pescoço não falo e a minha cabeça nada sente. Não sente a falta de nada.

2 comentários:

Luar Maria disse...

Emocionante.

Luar Maria disse...

compartilho saudades de Geribá. Acho que isso pode ser bom hein...

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